domingo, 29 de agosto de 2010

o metrô rio e as cores

desconsidero
a espera
a regra
as garras
(afiadas)
do tempo

desconsidero
o ponto
a pausa
o fim

desconsidero
a limitação dos sãos
a necessidade especial
os assentos vermelhos [ou laranjas, azuis e verdes]
no caos das cores
que alguns não enxergam

desconsidero
também,
e, sobretudo,
o sentido obrigatório

sorrio baixinho
- suspiro –
os cegos passeiam
e gostam
do que não podem ver

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

paisagem urbana

o homem plantado

é primavera
primavera no rio
um dia azul e verde e branco e

tantas são as cores dessa cidade
de tantos matizes
matisse diria...

não, nada
sem divagações:
a tarde é linda

volto de uma longa viagem
rumo afinal a algum descanso
imerecido, vá lá, mas necessário

e sozinha rio desse rio
enfim seco, fresco e colorido
rio, mansa que sou

e louca,
respiro profundamente
o ar leve das florezinhas multiplicadas

doida tabuada nas fachadas,
árvores e canteiros
e nos vestidos das moças trajadas de eterna alegria

surge então,
de uma jardineira em concreto urbano,
uma estranha flor

que estica os braços,
se espreguiça,
ergue o corpo

é um homem
é primavera
rio de janeiro

a-moral?
vida que segue
ainda vai chover

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O vazio que nos move

Publicado no jornal O Globo, no dia 23/06/2010.


Em recente ensaio na Folha de São Paulo, o cineasta João Moreira Salles levanta questões sobre o porquê de formarmos mais profissionais nas áreas chamadas humanas em detrimento das áreas exatas no Brasil, com destaque para a necessidade de produzirmos mais cientistas e engenheiros. Como profissional ligado as artes, ele descreve as perdas da separação entre os mundos das Artes e das Ciências, criando uma carência de profissionais, e intelectuais, de cientistas humanistas. Homens e mulheres capazes de inovar.

O Rio de Janeiro está numa posição privilegiada para provocar este debate e mesmo ousar nesta direção. Aqui estão os dois mundos: Artes e Ciências. O Rio concentra boa parte da produção artística nacional, desde as artes plásticas até o audiovisual e o design. Aqui estão também alguns dos maiores centros de pesquisa e produção de conhecimento do Brasil. Não é a toa que o Rio produz o maior número de doutores e de patentes do país.

Neste mês de junho, tivemos o lançamento de dois projetos, que juntos, simbolizam esta convivência e representam esta ousadia da cidade.

No dia primeiro, foi lançado o projeto e a obra inicial de restauração do Museu de Arte do Rio, com o feliz acrônimo “MAR”, no Palacete Dom João VI. Uma parceria entre a Prefeitura e a Fundação Roberto Marinho, com apoio do Governo do Estado, no âmbito do projeto de revitalização da região portuária: o Porto Maravilha. A proposta do museu é dar ao público a oportunidade de conhecer e admirar obras importantes de artistas consagrados. O museu também criará um espaço para produção e provocação de experiências estéticas e pessoais, que funcionará dentro de suas instalações: a Escola do Olhar.

Vinte dias depois, foi apresentado o Museu do Amanhã. Um magnífico projeto de arquitetura do engenheiro valenciano Santiago Calatrava, no Píer Mauá, com uma inovadora abordagem museológica para um centro de divulgação científica: o ponto de vista humano em integração com a natureza, orientado pelas necessidades do tempo atual. O museu tratará de temas como sustentabilidade e o papel da tecnologia no desenho futuro de uma sociedade mais equilibrada. Este conteúdo, e sua arquitetura, produzirão na Baía de Guanabara um dos mais representativos museus do mundo, um investimento altamente estratégico no processo de recuperação da região e no fortalecimento de nossa centralidade urbana.

Serão dois equipamentos públicos separados por uma praça: um dedicado às Artes, outro às Ciências. Ambos terão abordagens inovadoras, misturando os dois campos, com o objetivo de atrair e envolver os jovens. A intenção é motivá-los a preparar seus futuros como cidadãos mais plenos e capazes.

E esta praça não é uma praça qualquer. É a Praça Mauá, nomeada em homenagem a Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, empreendedor e visionário do Segundo Império, portador de um pensamento liberal e empregador de inovações tecnológicas. É também a praça onde se encontra o órgão de registro nacional de propriedade intelectual, o INPI, no também simbólico edifício “À Noite”.

A Praça Mauá, este espaço vazio, mas tão rico em simbolismo e memória, que sediará uma casa das Artes, o MAR, e uma casa das Ciências, o Museu do Amanhã, será uma mola propulsora de um Rio que valoriza a sua história e constrói o seu futuro.

Felipe Góes
Secretário Municipal de Desenvolvimento

Washington Fajardo
Subsecretário Municipal de Patrimônio Cultural